Quando a União Soviética dissolveu-se em 25 de dezembro de 1991, podia começar a transição para uma economia de mercado livre, conforme aos desejos de Boris Yeltsin, presidente da recém-criada Federação da Rússia. Os dirigentes russos escolheram uma aplicação acelerada do receituário ortodoxo. Como será demonstrado aqui, essa escolha levou a Rússia à beira do abismo, com resultados catastróficos do ponto de vista político, social e econômico.Em outubro de 1991, Yegor Gaidar, o novo primeiro ministro de Yeltsin, foi encarregado da elaboração de um plano de transição para a Rússia, e chamou vários economistas ocidentais ortodoxos, como Andrei Shleifer, Jeffrey Sachs (bem conhecido dos bolivianos…), David Lipton ou Anders Åslund. A maioria desses experts já tinha participado das reformas implementadas na Polônia, espécie de “laboratório” da transição russa. Desta forma, a transformação da economia russa tornou-se um extraordinário « caso prático » para os policymakers ortodoxos demonstrarem a validade das suas recomendações.
A hiperinflação, ligada ao excesso de liquidez em circulação herdado da União Soviética, era apontada pelos reformistas como sendo o maior risco para a economia russa. Eles sabiam, também, que a situação econômica seria piorada pela provável queda da produção provocada pela reconversão da indústria nacional. Temendo que a população russa pudesse não apoiar as reformas por muito tempo, Gaidar e seus especialistas decidiram, então, realizar um conjunto de mudanças consideráveis no mínimo de tempo possível. Assim, a estratégia escolhida ganhou o nome de Terapia de Choque (ou Tratamento de Choque).
Havia quatro pilares no programa da Terapia de Choque. O primeiro pilar era a liberalização dos preços, que devia acabar com as penúrias e alinhar os preços relativos internos com os preços internacionais. O segundo pilar era a abertura para a economia mundial, tirando os obstáculos administrativos e tarifários que existiam do tempo da URSS. O objetivo era um aumento das exportações que devia “comprimir” o mercado interno a fim de lutar contra a inflação. O terceiro pilar era uma política de restrições financeiras duras (“hard budget constraint”), cuja finalidade era reduzir o risco de inflação que poderia ser criado pela liberalização dos preços. O racionamento do crédito que seria a conseqüência de tal política devia acelerar o processo de reestruturação das empresas. O último pilar era a privatização das firmas estatais, que devia aumentar a competitividade das empresas russas, introduzindo a noção de competição. A privatização dos ativos produtivos devia ser acompanhada da introdução de um sistema de direitos de propriedade e da elaboração de um aparato legal para que fosse respeitado.
A dinâmica geral das reformas era a seguinte: as políticas de estabilização (redução das despesas públicas, controle da massa monetária e ajustamento da taxa de câmbio) deviam assegurar o controle monetário da transição, limitando os riscos de inflação gerado pela liberação dos preços e favorecendo o crescimento econômico. As políticas de ajustamento estrutural (liberalização dos mercados domésticos, abertura externa e privatização das empresas estatais) deviam criar as condições para uma maior eficiência econômica dos agentes, eliminando as distorções de mercado e permitindo uma alocação dos recursos orientada pelos preços relativos.
Mas, como era de se esperar, a realidade foi um pouco diferente. Assim, a abertura comercial descontrolada foi catastrófica para boa parte da indústria russa que ficou exposta demais à concorrência internacional, o que explica a queda dramática dos índices de produção de vários setores (menos 56%, na média). De outro lado, o aumento das exportações esperado depois da abertura comercial não aconteceu nas proporções esperadas, porque muitos países implementaram barreiras contra a entrada dos produtos russos.
Com a liberalização dos preços, o poder de compra dos russos caiu e apareceram cada vez mais pessoas vendendo seus pertences nas ruas ou reduzidas à praticar o escambo. Dessa forma, na Rússia de 1998, 50% das transações eram realizadas por escambo, fenômeno sem precedente na economia moderna.
Houve também um encolhimento considerável da demanda efetiva, devido à política monetária contracionista e ao colapso da demanda do governo. Ora, no novo sistema econômico, os bancos privados deviam supostamente substituir o Estado para ajudar as empresas a financiar seus investimentos. Isso não aconteceu e o crédito conheceu um grande racionamento, dramático para o investimento, que caiu de 81% entre 1991 e 1998.
Além disso, o processo de privatização foi confiscado por uma parcela muito reduzida da população, os chamados oligarcas. O BERD estima que a participação do setor privado no PIB passou de menos de 10% em 1991 a mais de 70% em 1997. Mas, de forma estranha, as operações de privatização concluídas entre nos anos 90 não permitiram ao Estado russo receber mais do que nove bilhões de dólares.
A ausência de controle de capital e de monopólio cambial do Estado russo permitiu aos oligarcas, cujas empresas exportadoras recebiam em divisas, mandar quantidades de dinheiro consideráveis para o exterior (A estimativa é de mais de 250 bilhões de doláres durante a década de 90).
A transformação das fazendas estatais em sociedades por ação devia permitir uma melhora da produtividade. No entanto, a concorrência internacional e a falta de investimento provocaram uma queda da produção da agricultura russa de 45% entre 1992 e 1998.
Enfím, as conseqüências sociais da transição foram dramáticas. A distribuição da renda piorou de forma dramática (o índice de Gini passou de 0,233 em 1990 a 0,401). Da mesma forma, o salário real caiu de 58% entre 1990 e 1999. Esse fenômeno foi, também, ilustrado pelo aumento exponencial do número de pobres na Rússia, que passou de 2% da população em 1988 para 39% em 1995.
A crise financeira de agosto de 1998, provocada pela fuga de capitais estrangeiros especulativos e pela reticência dos bancos domésticos em financiar a dívida, foi a digna conclusão da Terapia de Choque. Ela marcou o fim de uma década de recessão, com uma queda de mais de 51% do PIB real entre 1990 e 1998. Isso levou o país a se desindustrializar e a depender da produção e do processamento de commodities como o gás e petróleo.
Houve um verdadeiro conflito distributivo que se concluiu pela vitória de uma porção muito reduzida da população. De fato, a Terapia de Choque foi o meio usado pela casta dos empresários, financistas e “Red Directors” para se apropriar dos ativos estatais e da riqueza do país. A corrupção e o crime viraram a regra e o Estado perdeu toda sua legitimidade, sendo confiscado pelos interesses particulares.
Gráfico 1- Evolução do PIB real russo entre 1990 e 1998
Fonte: Federal State Statistics Service – Russia (2007).
Gráfico 2 – Evolução dos principais indicadores industriais russos entre 1998 e 2004
Fonte: Federal State Statistics Service – Russia (2007).
Gráfico 3 – Figura 3.2.3: Evolução do Investimento real russo entre 1990 e 1998
Fonte: Klein, L. ; Pomer, M. (eds) (2001) The New Russia, Transition gone awry. Stanford University Press e Federal State Statistics Service – Russia (2007).
Gráfico 4 – Evolução do índice de Gini russo entre 1990 e 2000.
Fonte: Gerardo Bracho, C. ; López, G. (2005) The Economic Collapse of Russia, Quarterly Review Banca Nazionale del. Lavoro, Roma, n° 232
Excelente texto. Ortodoxos, tomam que o filho é teu. O pior é a Veja e companhia que querem afirmar que o sucesso chinês se deve às reformas liberalizantes e capitalistas. O fracasso russo deve ser esquecido, pois fica dificil de atribuir ele à ausência de medidas ortodoxas. O resultado das políticas econômicas heterodoxas em comparação com as ortodoxas favorecem muito os heterodoxos.
Então, seguindo esse médoto de demonstração, posso dizer que as experiências macroeconômicas no Governo Sarney demonstram que o receituário heterodoxo não vale nada?
Muito fraquinha essa “demonstracao”.
Para comecar, eh para mim uma grande novidade que a Russia tenha sido algum modelo ortodoxo — na realidade estah entre os ex-comunistas que reformaram suas instituicoes mais lentamente…
Por outro lado, outros paises do Leste Europeu de fato abracaram o modelo ortodoxo e se deram muito bem (exemplo: Polonia, Hungria, Rep Checa, paises balticos etc)…
“aumento exponencial do número de pobres na Rússia, que passou de 2% da população em 1988”
Conheco muito gente que esteve na Russia antes do fim do comunismo que se borraria de rir com a afirmacao que somente 2% dos russos eram pobres em 1988… Um dos motivos que o regime se desintegrou daquele jeito eh que os russos estavam passando fome e frio em Moscou e morrendo aos milhares no Afeganistao…
“Com a liberalização dos preços, o poder de compra dos russos caiu e apareceram cada vez mais pessoas vendendo seus pertences nas ruas ou reduzidas a praticar o escambo. Desta forma, na Rússia de 1998, 50% das transações eram realizadas por escambo, fenômeno sem precedente na economia moderna.”
Os ortodoxos devem ter orgasmos com esse tipo de informação… O aperto monetário foi tão forte que metade da economia não usava moeda?!?! Sem moeda = Sem inflação. Como diria o Analista de Bagé: “mais ortodoxo que pomada Minancora!!!”
Mas o verdadeiro problema dos ortodoxos é que não conseguem enxergar políticas ortodoxas quando as vêem. Na verdade, acho que alguns são mais revolucionários que Marx e acham que vc deve mudar todas as políticas e instituições (e se der a opinião de tudo mundo) de uma vez só, se for mudando as políticas uma por vez, não dá certo.
Além disso, as políticas ortodoxas são muito úteis para preparar os países para o crescimento (depois que abandoná-las).
Abraços
“Os ortodoxos devem ter orgasmos com esse tipo de informação… O aperto monetário foi tão forte que metade da economia não usava moeda?!?! Sem moeda = Sem inflação. Como diria o Analista de Bagé: “mais ortodoxo que pomada Minancora!!!””
Mas diz para mim, Heldo, funcionou ou nao?
Compara a taxa de inflacao na Russia nos ultimos 5 anos com os 5 anos antes de 1998. Compara depois a taxa de crescimento nesse mesmo periodo.
Economista 1
como combate à inflação funcionou, mas não melhorou a alocação dos recursos escassos, não trazendo o pleno emprego no período seguinte. Logo, é provável que tenha funcionado por motivos diferentes daqueles propostos pelos teóricos. Aliás, o aumento do emprego no momento seguinte foi provocado justamente pelo abandono dessas políticas.
Mas a questão é que vc disse que eles não um modelo ortodoxo. Logo, vc acredita que a restrição monetária não fosse parte de um modelo ortodoxo. E aí, ou vc acredita em revoluções mais que na mudança gradual das políticas econômicas.
Em contrapartida, se eles adotaram apenas uma parte das políticas ortodoxas e que essa (especificamente, o aperto monetário) deu certo, eu posso admitir que o seu conceito de política ortodoxa é: política ortodoxa = qualquer política que funcione;
Falou
Gradualismo vs tratamento de choque é um debate antigo entre monetaristas. No caso da Rússia o Gorbachev seguia o caminho de transformação gradual e o golpe que levou Yeltsin ao poder partia da premissa que o povo russo queria as mudanças já, estavam todos cansados e frustrados com o gradualismo dar reformas. Assim, a opção pelo tratamento de choque não era opção de política ou prerrogativa teórica.
Um discussão honesta deveria reconhecer que independentemente dos erros humanos e das ideologias, a transição teria efeitos nefastos sobre o povo russo uma vez que foi, antes de qualquer coisa, o roubo mais descarado de uma elite governante contra o seu povo que já se viu na história.
Heldo,
A Russia foi um dos paises em transicao que fez a reforma mais lentamente… Mas fez essa reforma, no final.
Gostaria que voce discorresse (um ou dois exemplos sao suficientes) e explicasse para mim qual politicas heterodoxas contribuiram positivamente para a Russia… Afinal se voce nao puder mostrar dois exemplos, vou desconfiar que voce nao sabe do que estah falando, nao?
Finalmente, quanto a qualquer sucesso russo, voce nao deve tirar da receita que eles sao exportadores de petroleo e o preco deste subiu uns 600% desde o final dos anos 90… Agora se voce quiser parecer bem esperto e informado, vai poder discutir o problema da doenca holandesa na Russia, que eh bem serio, e estah sufocando todas as outras exportacoes russas que nao sejam relacionadas a petroleo.
Economista 1
Se vc fosse esperto, perceberia que eu falei só de teoria e não de prática. A questão é simples, vc falou que a Rússia não adotou um modelo ortodoxo, do que discordei. Mas no final vc aponta que o modelo foi ortodoxo.
Não estou falando de questões pontuais, principalmente pq não estudei o caso. Mas li o artigo e fiz um comentário sobre ele. Mas, se no final das contas, o modelo russo não era ortodoxo, não preciso mostrar nenhum exemplo de políticas heterodoxas (afinal, tudo o que não é ortodoxo é heterodoxo).
A questão é simples, a semi-ditadura do Puttin, com protecionismo e reestatização de algumas empresas está fazendo a Rússia crescer. Se são políticas ortodoxas ou heterodoxas, já me convenci que com vc é impossível descobrir.
Abraço
“A questão é simples, a semi-ditadura do Puttin, com protecionismo e reestatização de algumas empresas está fazendo a Rússia crescer.”
Eh o preco de petroleo, genio!
Quanto a aumento de produtividade e diversificacao da economia, nada.
Caro coelhods,
Acho que sua observação:
“Um discussão honesta deveria reconhecer que independentemente dos erros humanos e das ideologias, a transição teria efeitos nefastos sobre o povo russo uma vez que foi, antes de qualquer coisa, o roubo mais descarado de uma elite governante contra o seu povo que já se viu na história.”
está contemplada no texto, uma vez que ele não trata apenas da política de estabilização, mais também das políticas “estruturais”, de privatização etc, e que essas cairam nas mãos da oligarquia russa. E claro, elas foram justificadas pelos ideologos do neoliberalismo/Consenso de Washington, como a solução de mercado para a modernização soviética.
Afinal, roubo sofisticado é aquele que é justificado por uma histórinha bonita.
Abs
Summa
Ricardo,
(1) Por que o governo do Lula segue os preceitos do Consenso de Washington? Estou curioso para saber sua explicacao.
(2) Voce acha possivel que todo aquele papo de plebiscito da divida da CNBB era conversa para boi dormir e enganar adolescentes de todas as idades?
Abracos,
Economista 1
Caro Economista 1,
As respostas para a pergunta (1) estão no nosso manifesto e serão melhor debatidas em futuros textos.
O coletivo Crítica Economica não é composto de psicologos com formação em comportamento adolescente, portanto não sei porque vc insiste em usar esses termos por aqui.
Que o debate siga no melhor nível possível e, de preferência, continue sobre o caso da Russia na década de 90.
Abraços,
Ricardo
Summa,
No 2o comentário fui mais explícito no meu ponto:
“Então, seguindo esse médoto de demonstração, posso dizer que as experiências macroeconômicas no Governo Sarney demonstram que o receituário heterodoxo não vale nada?”
Da mesma forma seria maniqueísmo ridículo acusar Celso Furtado e sua matriz intelectual de todas as patifarias que foram feitas pela e através da SUDENE (rs, já briguei com meu pai por causa disso).
Gostaria de lembrar tbm que o Consenso de Washington é filho bastardo do “velho desenvolvimentismo” quando por décadas todo um receituário heterodoxo foi aplicado com benção dos países ricos e dos organismos multilaterais.
Não me surpreende que o “novo desenvolvimetismo” se valha do sincretismo do velho com o consenso.
Abs
Gostaria tambem de entender a posicao dos heterodoxos com relacao a politica fiscal russa.
Afinal superavit primario de quase 10 por cento do PIB nao me parece o tipo de politica economica que nossos heterodoxos de colegial estao prontos para advogar…
Boa pergunta, para um ortodoxo. geralmente eles não conhecem nenhuma informação de cabeça.
mas a resposta é muito simples.
O supéravit Russo é consequência e não é causa de nada relevante.
ele é consequência de um setor de petróleo altamente lucrativo e altamente estatizado, de uma taxa de crescimento alta dos gastos privados e de um elevado saldo em conta corrente.
O setor privado está gastando muito e consequentemente a receita pública está crescendo muito.
Como o Putin não tem preocupações sociais e nem tem uma assessoria econômica muito boa permite que os gastos públicos crescem a taxas similares ou ligeiramente inferiores aos gastos privados (e ou ao crescimento do lucro das estatais energéticas). obviamente, o país obtém superávit primário assim.
mas se quisesse reduzir o superávit primário, bastaria aumentar os gastos públicos a taxas mais altas. isso faria a economia russa crescer a taxas chinesas e sem risco inflacionário, pois podem manter a taxa de câmbio ao nível que quiserem.
mas a assessoria econômica do Putin é não é tão boa…
No livro “o fim da pobreza” Jeffrey Sachs tem um capítulo dedicado a esse episódio. Vale a pena a leitura, vcs podem não gostar dele e de suas idéias, mas vão gostar de ver quem ele culpa pelo ocorrido na Rússia nos anos 90.
Esse artigo é interessante, ainda sim, um tanto quanto simplório e tendencioso. O colapso russo, se foi ex-ante previsto, de fato foi sobremaneira substimado. É possível concluir que o desmantelamento do estado estatizado pela assim designada pelos próprios russos como “gangue liberal” só poderia mesmo resultar em catástrofe. Um andeno: pode parecer “coisa feia da minha parte” à priori, mas nos últimos anos tenho observado a Escola de Chicago com um certo resigno e respeito – mesmo depois do subprime. Vejam o número de Prêmios Nobel que os pesquisadores a ela associada possuem!
É tão eloqüente que se quer é possivel imaginar o modus operandi de um processo como o desmantelamento do ordenamento institucional e econômico do Estado Soviético. É incrível o que a sociedade russa foi obrigada a suportar ao longo do século XX. Viveram momentos de total anomina social (Primeira Guerra, Revolução 1917-23, a grande fome quando da estatização dos campos da Ucrânia, o Tratado de Brest-Litovsk, 20 milhões de civis mortos na assim designada por eles como “Grande Guerra Patriótica” contra os Nazi, perseguição aos dissidentes e os Kulaks de Stálin) bem como tranqüilidade relativa – na Era Brejnev. Quando as “caveiras” (os camaradas de Brejnev e Kossigner) começaram a tombar dentro do bunker mais conhecido como “Kremilin” na segunda metade dos anos 80, os russos já reconheciam a necessidade das reformas; só que eles não sabiam que as mesmas detonariam um processo incontrolável se fossem feitas em meio às liberdades individuais. Acabaram reconhecendo, ainda que a boca pequena, que o mercado é necessário (tanto no varejo como no atacado) – de fato, o mercado é o provedor das inovações tecnológicas in long run. Só que o mercado e as liberdades individuais produzem desastres em meio a desregulamentações. É incrível como lhes foi vendida (e o mais impressionante é que tenham aceitado) a idéia de que o ordenamento institucional nasce a pari passu da progressão geométrica das atividades de livre mercado. Os chineses sabiam (sabem) que não é bem assim; talvez, por isso mesmo, tenham feito o que fizeram na dita “Praça da Paz Celestial” em 1989. Sorte do mundo que exista a China tal como ela se apresenta atualmente no decurso de suas “reformas”. Hoje os EUA não podem mais gerar o bem público “estabilidade macroeconômica” em escala global; ainda sim, estariamos pior se a não existisse a China – ou se por ventura ela tivesse se tranformado em algo semelhante ao que é a Rússia hoje.
Não penso que a ortodoxia deva ser responsabilizada pelo desastre russo: imaginar isso é passar “diploma de besta”! Modelos ortodoxos pressupõem a existencia de um ordenamento liberal democrático do tipo “contra-pesos automáticos” – a antíntese do que existia na Rússia que se dizia “vermelha”. “Besta” foram aqueles policymakers russos e ocidentias que supuseram suas medidas profiláticas de transição (seja lá qual for significado disso) baseadas nos modelos ortodoxos. Ainda sim, a bem da verdade, no que se refere “ao que fazer” (ou ao que poderia ter sido feito e não foi), não acredito que existesse (exista) uma receita a ser aplicada. Teriam os chineses a descoberto com aquela histórinha de que “não importa se o gato é preto ou branco, o que interessa é que ele abocanhe os ditos ratos”!?
Sejamos francos: a macroeconomia normativa está voltada para os fenômenos inerentes aos desvios de ciclo econômico das economias de mercado – posto isso, o sistema soviético, aos olhos dela, era uma aberração! A aplicação literal da mesma só poderia mesmo derivar em desastre. Por fim, como é de praxe quando a “santeria heterodoxa” (ao olhos dos economistas russos formados na academia soviética provavelmente os modelos ortodoxos eram para eles hetodoxos – já pensaram nisso!?) é aplicada, os justos sempre pagam pelas ações dos pecadores: a população russa assistiu a um empobrecimento relativo aterrandor, ante a seus homônimos ocidentais. A “nomenklatura”, mesmo depois da difícil transição, sobreçaiu: agora são oligarcas – quando não estão envolvidos com márfias! De fato, paradigmas em economia política não servem para muita coisa e temos ai a evidência empírica disso: no fim, o uso dos paradigmas (sejam eles ortodoxos e/ou heterodoxos) sempre se prestará a algum propósito, geralmente muito pouco nobre!
Tanto institucionalmente quanto economicamente, a Rússia está num patamar inferior ao que nosso sempre mal tratado Brasil. Tecnologicamente, a excessão da indústria militar, são países assemelhados. No prognóstico conhecido por BRIC, um mesmo papel e reservado a ambos. Mas a Russia é uma pseudo-democracia e os russos possuem pouco apego pela mesma: acham-na coisa do ocidente, por isso mesmo, a “mãe russa” deverá superpô-la. Ao ex-KGB Putin, a democracia não servirá ao interesses do Estado quando está, ao se fizer pender aos da reclames da maioria, desnudar as relações do Kremilin para com os grupos econômicos atuais; herdeiros da “nomenklatura”. Putin promoveu uma certa estabilidade na Rússia ao longo dos últimos anos; ajudado, é verdade, pelos preços mundiais da energia. No que se refere às instituições, as tem reformado “de cima para baixo”. Mas tudo isso continua sendo um castelo de cartas que, dificilmente, manter-se-á de pé ante à ameaça de uma depressão global.
Gostei do texto.
è bem interessante
Depois da morte de Stalin, o CC do PCUS foi tomado por incompetentes e traidores do socialismo. Primeiro foi Kruschov, um bandido que renegou todo seu passado ao lado do maior líder mundial de todos os tempo e inventou uma série de mentiras e infâmias assacadas contra seu antecessor. Depois foi um desfilar de burocratas do tipo Leonid Brejniev que não tinha 0,1 da sensibilidade de massa do grande Stalin.
Era clara a necessidade de reformas na União Soviética, mas o que aconteceu sob o “comando” do traidor mor do socialismo, o Roberto Freire careca, Mikhail Gorbachov foi um verdadeiro desastre.
O que era URSS ficou sem estado e governo durante meses. Durante esse tempo, generais se apoderaram de armamentos e os venderam, inaugurando o maior tráfico de armas de todos os tempos. Isso foi só o começo.
Hoje, a Rússia e os países do antigo Pacto de Varsóvia são os maiores celeiros de prostitutas do mundo capitalista.